Quem já não ouviu falar do método científico? Sim, me refiro
àquele modelo ensinado nas aulas de ciência do ensino médio. Observação,
problematização, formação de hipótese, experimentação, análise e conclusão.
Acontece que esses passos, tão comuns em nossa forma de pensar e tão repetidos
centenas de vezes durante a vida de qualquer pessoa que chegou ao ensino médio,
fundamentaram algumas das grandes descobertas da humanidade.
Começando pelo começo...
Já na Grécia Antiga, milhares de anos atrás, é possível encontrar
indícios do pensamento científico, que mais tarde foram formalizados no método.
Um dos primeiros a pensar cientificamente foi o filósofo grego Aristóteles, que
estabeleceu uma das bases do pensamento científico: o empirismo. Outro
grande avanço no método ocorreu durante a era de ouro da filosofia islâmica,
quando foram desenvolvidos experimentos para decidir entre duas hipóteses.
O obscurantismo religioso que marcou a Idade Média trouxe
consigo uma ênfase muito grande nos mitos e nos dogmas cristãos como a única
verdade, o que abafou quaisquer outras formas de pensamento. Foi apenas no
século 12, com o surgimento do Renascimento, que o pensamento racional e
científico recuperou seu valor como forma legítima de obter conhecimento.
Francis Bacon, filósofo inglês que viveu entre os séculos
XVI e XVII, foi o primeiro a formalizar o conceito de método científico.
Inspirado pelos trabalhos de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, Bacon
estabeleceu e popularizou as metodologias indutivas, que são a base do
pensamento científico. Não é por acaso que, às vezes, o método científico é
chamado de método baconiano. Segundo ele, o segredo estava na observação e na
indução, um tipo de raciocínio que constrói ou avalia proposições
generalizantes a partir de eventos específicos que acontecem repetidamente. A
indução constrói pensamentos como este: “o cobre é um condutor de eletricidade,
assim como a prata, o ouro, o ferro, o zinco e outros metais. Logo, todo metal
é condutor de eletricidade”.
Ao contrário de argumentos dedutivos – que derivam o específico do geral – o
raciocínio indutivo permite conclusões falsas, mesmo que todas as premissas
sejam verdadeiras. Isso porque argumentos indutivos não são válidos ou
inválidos, mas sim fortes ou fracos, e portanto descrevem a probabilidade de
que uma conclusão seja verdadeira. Isso é extremamente importante no contexto
da ciência, já que essa flexibilidade dá espaço a descobertas e aprimoramentos.
As regras do jogo
Uma das ideias revolucionárias do método científico foi a de fazer experiências
para obter conhecimento. Parece óbvio que, ao examinar um problema, devemos
criar hipóteses e testá-las para ver qual se mostra verdadeira. Mas esse
pensamento básico jamais ocorreria a alguém vivendo na Idade Média. Outra
novidade foi a construção de um método para realizar as hipóteses, um conjunto
de procedimentos que basicamente tenta controlar o ambiente de testes para que
apenas um dos item seja variável, e assim se permita conhecer o comportamento
daquele item isolado, já que todas as outras variáveis foram mantidas
constantes.
Graças a essas ideias básicas, hoje, um aluno do ensino
fundamental da Sandton Afriaankse Akademie, em Johannesburg, na África do Sul,
segue os mesmos passos na sua aula de ciências que um professor de biologia na
Universidade de Stanford, nos EUA, que segue os mesmos passos seguidos por
cientistas famosos como Isaac Newton, Max Planck e Albert Einstein. Deste modo,
essas regras, que já carregam centenas de anos nas costas, foram base para uma
miríade de avanços científicos – pequenos, médios e grandes.
Um deles foi a experiência de Louis Pasteur. Conhecido como um dos fundadores
da microbiologia médica, Pasteur construiu, a partir de suas observações e
experiências, uma teoria até hoje vigente de que os seres vivos se originam
somente a partir de outros seres vivos. Para realizar seu experimento, o
cientista francês preparou um caldo de nutrientes semelhante a uma sopa. Em
seguida, colocou porções iguais desse líquido em dois frascos com gargalos
diferentes: um tinha o gargalo reto; o outro tinha um gargalo dobrado em forma
de S. A fim de matar qualquer matéria viva presente no líquido, Pasteur ferveu
o caldo de cada um dos frascos e deixou-os esfriar. Depois de algumas semanas,
observou que o caldo no frasco de gargalo reto estava contaminado, enquanto o
do outro frasco não havia mudado. Concluiu, portanto, que germes conduzidos
pelo ar conseguiam cair sem obstruções no frasco de gargalo reto, mas ficaram
presos no gargalo curvo. Se germes fossem gerados espontaneamente, como se
acreditava à época, ambos os caldos teriam sido contaminados.
As contribuições invisíveis
Ainda assim, é importante lembrar que o impacto do método
científico é muito maior do que a soma de suas descobertas. Além de abrir o
caminho para diversos avanços e inovações, esse modelo mudou a maneira de ser e
de pensar do homem. De fato, algumas das atividades básicas que adotamos
diariamente derivam desse modelo como, por exemplo, a curiosidade e a procura
de respostas, algo natural em todo ser humano.
Considere o seguinte exemplo: você está tomando banho quando a temperatura da
água cai drasticamente. No caso, o problema revelado pela observação (a água
gelada) se torna claro imediatamente. Mas o que estaria causando a queda na
temperatura? Uma hipótese seria um defeito no aquecedor. Outra envolveria o
encanamento. Uma terceira seria que o gás acabou. Você aborta o banho e examina
a situação. Depois de testar as diferentes hipóteses, conclui que a terceira
opção é a correta.
No final das contas, as aulas de ciência e os experimentos da escola deixaram
lições fundamentais que nos ajudam a construir o conhecimento que necessitamos
para viver.
O que esse pensamento deixa para trás?
O pensamento mítico, uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da
realidade em que vive sem usar fatos. O termo grego mythos significa
precisamente discurso fictício ou imaginário; mas, embora possa ser sinônimo de
“mentira”, o mito é verdadeiro para quem o vive. Dessa forma, a verdade do mito
não corresponde a lógica nem da verdade empírica: é verdade nascida da
intuição, da imaginação.
Fonte: http://www.asboasnovas.com (adapatado)